terça-feira, fevereiro 06, 2007
Uma Viagem pelo Minho
Ah, Barcelos. Que o pueril ar fresco que se respira nas madrugadas minhotas seja reflectido no orvalho das tuas cinzentas calçadas forradas a paralelepípedos. Que a torrente de futebol alicerçado no letal contra-ataque seja proporcional ao sacramental anti-jogo quando te apanhas a ganhar. Que a contenção feita futebol se desfaça na rede adversária através de uma negra lança sobrevoando o verde tapete.
Será que a bola transformada em ponto fulcral de uma demanda pelo sucesso do cinismo pode ser levada a sério? Será que um autocarro transversalmente estacionado pode ser ponto de partida para uma rápida incursão pela autoestrada que rápida e ríspidamente nos entrega à porta da nobre e desejada meta? É só encostar, Mangonga.
Todas as viagens têm um ponto de partida. A nossa viagem de hoje começa num Tuck. Um Tuck começa quando um qualquer Abdel-Ghany ataca. Aliás, existiriam Kikis se não fosse pelos Hadjis deste Mundo? Seria necessária a existência de um Fernando Aguiar, não fôra pela tímida genialidade de um Walter Paz?
Entra em cena Tuck. O desarme feito arte. O sentido posicional feito bandeira. Um Custódio antes do Custódio. O assassino silencioso. Sem grandes alaridos, sem grandes marcas na integridade física do oponente. A bola? Já era. O drible? Impossível. Neste terreno não há lugar para a fantasia indomável do esfíngico Sabry. Neste Mundo o polícia não é George Walker Bush. Neste Mundo o cowboy é Tuck, polícia discreto, carismático capitão, líder que partilha os holofotes.
Após tomar o seu início no desarme, a viagem continua pelo génio. Todos nós temos um pouco de génio e de louco, é certo. Mas certos indivíduos possuem esta primeira característica em doses industriais. O meio-campo de Barcelos era um bom exemplo. Dois senhores percorrem o mesmo terreno de forma tão equilibrada na sua justiça, quanto desiquilibrada no teor de Q.I. em relação aos seus desamparados oponentes. O ponderado, regrado e cerebral Caccioli, personalidade inexorável da verdinha meia-lua, é o perfeito contraponto ao genial rebelde sem causa João Oliveira Pinto, a promessa que nunca o foi. Dois nomes de craque para uma linha de texto, duas luvas para duas mãos siamesas, duas cerejas no topo de um bolo coberto do mais delicioso glacê.
Se um "tuck" na bola inicia a viagem, são precisos um grande condutor e seu fiel co-piloto para levar o glorioso veículo ao parque de estacionamento do Olimpo. Manobras arrojadas nunca foram problema para o aveludado J.O. Pinto, craque de nome, e Mad Max de coração, que apenas precisava de direcção. Direcção, dizeis vós? Pois quem melhor para as fornecer do que o homem que dispensou qualquer volume capilar para arranjar espaço para o seu GPS cerebral? Cacci "O Homem-Assistência" Oli. Qual baterista marcando o ritmo de um acelerado riff de uma rebelde guitarra, qual Rui Costa passeando (devagar, claro) pela primeira página de uma anónima edição do jornal "A Bola", Caccioli era o calvo maestro que dirigia o atum J.O. Pinto nesta sanduíche que tinha Tuck como alface.
Porém, esta viagem só faria sentido se chegasse ao destino. Para comer tremoços é preciso tirar a casca. É necessária a existência de alguém que ponha os meninos a dormir. Um picheleiro que feche a torneira. Um carteiro que termine o dia com o sorriso estampado de dever cumprido na sua abigodada face. Se vociferamos então por um matador de sangue gelado, com Mangonga o tiro nunca sai furado. Este esquivo sniper de lábios cinzentos enterrou os sonhos de muitas almas despojadas de esperança, que olhavam impotentes para o relvado, de olhar vazio, enquanto o diminuto Mantorras do Congo lhes roubava a alegria debaixo dos seus peludos narizes.
Makopoloka Mangonga, o "Zairense (agora Conguito) decisivo", saía invariavelmente do relvado abraçado a seus compadres, e com um vitorioso esgar decalcado nos seus cinzentos lábios, dizia baixinho a Nené Santarém: "Hoje o herói sou eu, amanhã serás t...não. Amanhã também serei eu. Desculpa."
Viagem curta, esta. Curta, mas saborosa como uma pinga de mel que escorre de um jarro quebrado numa tarde de Verão na Rechousa.
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Anónimo
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18 comentários:
Ei,fui o primeiro!
Lembro-me duma vez o cacioli marcar um ganda golo numa chapelada do meio campo na me lembro contra kem... Já o Mangonga axo q era arma secreta do Gil quando estavam a perder
A genialidade é este texto!
fabuloso este texto!
parabéns fitzx, bela criatividade
spencer
que delícia de post.
ainda lembro este gil com estes senhores, que máquina cínica de mastigar futebol.
Aliás, este Gil Vicente tinha o condão de proporcionar os resumos mais rápidos do Domingo desportivo...
PS - Como é que os comentadores não morriam a rir quando relatavam um jogo do Famalicão? Cada nome...
Keep up the good work!!!
http://bwinsuperliga.blogspot.com
pra ficar perfeito só falta o grande drulovic! equipa maravilha esta!
Bem hajam, pessoal. We aim to please ;)
Genial o texto, cada post vosso é um um momento de prazer. Só tenho pena de apenas ter descoberto o vosso blog recentemente.
Uma maravilha!Aliás, após Cacci "eu tenho uma pizzaria à beira da escola" Oli (epíteto só superado pelo original, do Fitzx e Tuck, houve Lila "eu tenho uma pensão manhosa ao pé da estação", que começou o percurso "crómico" em Famalicão. E, após anos cinzentos de Carlitos e Nandinhos, eis que surgem Fiúza e Mateus, qual D. Sebastião e seu cavalo,(não sei qual é qual) numa manhã de nevoeiro, ressuscitar a cromice em Barcelos.
diz-me por favor, que ja foste comer à pizzaria do Cacci-gol. Por favor. E que ele anda por lá a maior parte do tempo.
É verdade, Fitx. As pizzas não são grande espingarda, mas o bolo de bolacha é apenas comparável a uma passe magistral de Cacci-Lombardo para a cabeça de Mangonga. Direi mesmo, até,para o bico da bota de Lim!
ele ainda é careca ou já usa capachinho?
Nada disso...carequinha, as always. Mas aquelas tiras de pelo que lhe enfeitavam o descabelado crâneo já começam a rarear...ou seja: calvície total,l aqui vai o génio!
Este post é muito bom!
Mas o meu preferido continua a ser o do Cao!
malta... na tenhem medes de apanhar enpatite ao passar por aqui:
http://algarve-desunited.blogspot.com/2007/04/giiiiiiilllllllliiiiiii.html
very nice, very tastefulll... great style... love all that
Cacci-sou uma espécie de 3 em 1Punisic-Pitico-Miguel Serôdeo-oli nunca sairá da minha mente.
Eterna saudade e admiração cacci! O mundo do futebol pelado um dia vai fazer-te vénia e aí todos se vergarão perante o teu eterno e memorável nome...
Sempre "O" maior!
Abrç fitzx.
Só para dizer que nessa altura ia ver os jogos com o meu pai, era mesmo pequeno, mas ainda me lembro desses craques e nunca vi uma descrição tão perfeita daquilo que representa o Gil Vicente. Se não és de barcelos, és como se fosses. Genial.
"Que a torrente de futebol alicerçado no letal contra-ataque seja proporcional ao sacramental anti-jogo quando te apanhas a ganhar."
É isso tudo e sempre foi...
E o resto está XD
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